A tensão entre Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o ministro do STF Alexandre de Moraes subiu mais um grau neste domingo (25), após Moraes retirar o sigilo do inquérito que apura suposta coação contra ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. O pedido de investigação partiu da Procuradoria-Geral da República (PGR), que vê indícios de tentativa de intimidar os magistrados responsáveis pelo julgamento do inquérito do golpe de 8 de janeiro.
O processo, que até então tramitava em sigilo, foi tornado público por decisão de Moraes. Segundo ele, "não há justificativa para manutenção do sigilo", com base na regra constitucional que estabelece a publicidade como norma nos julgamentos do Judiciário.
A investigação se concentra em falas públicas do deputado licenciado — e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro — que sugerem articulações para pressionar os Estados Unidos a imporem sanções a ministros do STF, especialmente Alexandre de Moraes. A PGR, sob comando de Paulo Gonet, entendeu que essas declarações configuram coação no curso do processo, uma infração grave.
Coação é quando alguém utiliza ameaças, força ou intimidação para influenciar outra pessoa, o que pode ser classificado como coação física ou moral no âmbito penal — por exemplo, ao ameaçar um juiz ou testemunha para alterar uma decisão ou depoimento. Já a chamada coação no curso do processo, que se aplica ao caso de Eduardo Bolsonaro, é um crime previsto no artigo 344 do Código Penal.
Essa forma de coação ocorre quando alguém tenta influenciar, intimidar ou impedir o trabalho de autoridades envolvidas em um processo judicial, como juízes, promotores ou testemunhas. A pena para esse tipo de crime é de reclusão de 1 a 4 anos, além de multa, e pode ser agravada se houver uso de violência.
No caso específico de Eduardo Bolsonaro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) entendeu que ele praticou coação ao fazer declarações públicas que soaram como ameaças veladas ou pressão política sobre ministros do STF, ao sugerir, por exemplo, que buscaria apoio nos Estados Unidos para aplicar sanções contra os magistrados da Corte — principalmente Alexandre de Moraes. Para a PGR, essa conduta foi interpretada como uma tentativa de intimidar ou influenciar o julgamento sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.
Enquanto o inquérito avança no Brasil, nos bastidores da política externa cresce o temor de uma crise diplomática. O governo Lula tem tratado a possibilidade de sanções americanas a Moraes como uma afronta à soberania nacional. Questionado sobre o impacto disso para o país, Eduardo Bolsonaro jogou a responsabilidade no colo do presidente:
"Se o governo Lula quiser comprar a briga do Moraes e mergulhar o Brasil numa disputa contra os Estados Unidos, onde notoriamente os Estados Unidos é o lado mais forte, isso vai ser uma decisão que a gente tem que deixar claro que é uma decisão do presidente Lula", afirmou Eduardo, em tom crítico.
A fala, no entanto, não parou por aí. O deputado foi ainda mais duro ao sugerir que um posicionamento do governo em defesa de Moraes poderia ter consequências políticas sérias:
“E nós aí vamos ter que trabalhar o quê? Para trocar de presidente, porque esse presidente não está servindo ao interesse dos brasileiros. O interesse dos brasileiros não se confunde com o interesse do Alexandre de Moraes”, disparou.
O discurso de Eduardo, visto como tentativa de intimidação institucional, gerou reações dentro do próprio STF. Segundo apurações, até mesmo ministros indicados por Jair Bolsonaro manifestaram solidariedade a Moraes diante da ofensiva pública.
O inquérito foi designado a Alexandre de Moraes por ordem do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, com base em conexões diretas entre o deputado e investigações já conduzidas pelo relator do caso do 8 de janeiro.
Agora, com os holofotes voltados para o embate entre um parlamentar federal, um ministro da Suprema Corte e o possível envolvimento diplomático com os Estados Unidos, o Brasil se vê diante de um novo impasse institucional — que vai além das fronteiras nacionais.